Os números oficiais não deixam dúvidas: Salvador segue batendo recordes de multas, mas quando o assunto é investimento em infraestrutura viária e educação no trânsito, a realidade é bem diferente. A desproporção escancara o caráter arrecadatório da política municipal, que pune o motorista com rigor, mas pouco devolve em melhorias.
Em 2025, a prefeitura celebrou a “redução” de 3,8% nas autuações em relação ao ano anterior. No entanto, essa queda é irrelevante diante da magnitude de mais de 350 mil multas em apenas seis meses. Enquanto isso, buracos nas ruas, semáforos apagados e sinalização precária continuam sendo realidade diária para quem circula pela capital baiana.
Do ponto de vista jurídico, a falta de contrapartida pode configurar violação ao princípio da eficiência (artigo 37 da Constituição), já que os recursos arrecadados deveriam, em tese, ser revertidos em benefícios diretos ao trânsito. Quando o Estado se limita a arrecadar sem investir, surge o risco de caracterizar desvio de finalidade.
Salvador não precisa apenas de mais radares — precisa de respeito ao cidadão, planejamento urbano sério e prioridade no transporte público. Punir é fácil; governar de verdade é o que falta.
